02 novembro, 2015

Resenha: Laranja Mecânica


Título: Laranja Mecânica
Autor: Anthony Burgess
Editora: Aleph

Sinopse: Narrada pelo protagonista, o adolescente Alex, esta brilhante e perturbadora história cria uma sociedade futurista em que a violência atinge proporções gigantescas e provoca uma reposta igualmente agressiva de um governo totalitário. A estranha linguagem utilizada por Alex - soberbamente engendrada pelo autor - empresta uma dimensão quase lírica ao texto. Ao lado de "1984", de George Orwell, e "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, "Laranja Mecânica" é um dos ícones literários da alienação pós-industrial que caracterizou o século XX. Adaptado com maestria para o cinema em 1972 por Stanley Kubrick, é uma obra marcante: depois da sua leitura, você jamais será o mesmo. Agora em nova tradução brasileira.


Como Burgess conseguiu fazer eu me importar com Alex? Eu não sei. Mas Laranja Mecânica com certeza acaba de se tornar um dos meus livros favoritos.

Alex é inteligente, manipulador e culto. Tem uma família equilibrada, vive em uma condição financeira confortável e tem acesso a educação. Mas se diverte roubando, agredindo pessoas, estuprando e ouvindo música clássica. Ele sabe exatamente o que é certo e o que é errado, e por que ele é um criminoso? Como ele mesmo diz, porque ele gosta. Ele gosta de ver as pessoas desesperadas, sangrando, apavoradas. Alex é o nosso narrador nesse universo futurista de Anthony Burgess, um adolescente adepto do dialeto nadsat (as gírias dos jovens da “época”), praticante compulsivo da ultra violência e quando lhe convém pode se comportar como um rapaz bondoso e educado, o que para ele é só mais um meio de se proteger dos miliquinhas (a polícia). Porém, ele se engana ao achar que as consequências não o alcançarão: Alex é preso e sua melhor (e única!) alternativa de recuperar a sua liberdade constitui aceitar ser cobaia de um experimento cientifico de recuperação de tipos criminosos. Desesperado para sair da prisão, aceita e assina os devidos termos, mas ele não chegou a imaginar o quanto esse experimento poderia mudá-lo.

“Bondade é algo que se escolhe. Quando um homem não pode escolher, ele deixa de ser humano.”

O primeiro item a ser falado quando se discute essa obra maravilhosa é a escrita e a linguagem usada por Anthony Burgess. Todas as tribos urbanas possuem suas próprias gírias, emos, góticos, punks, surfistas, hippers… Pensando nisso, Burgess decidiu implementar as gírias no vocabulários dos personagens que representam essa tribo de adolescentes delinquentes, em uma tentativa de dar mais verossimilhança. Mas mais do que inserir gírias, ele criou todo um novo leque de palavras que seriam usadas por esses delinquentes do futuro, o que foi uma sacada genial. A experiência de ler o livro através da mente do Alex com aquela porção de expressões que nunca ouvi falar é indescritível. No início, foi enfadonho, mas depois fiquei curiosa e vinte páginas depois já estava assimilando alguns neologismos a palavras conhecidas e fui aprendendo as gírias. E mesmo horas depois de terminar de ler o livro, tem essas palavras nadsat flutuando na minha mente como horror show, litso, plotis… A sensação que passa é que, de fato, aquilo tudo é real.
Em contra partida, o desenrolar da história é muito dinâmico. O eventos ocorrem sem enrolação, sem prolongamentos desnecessários, o que me colocou em um ritmo frenético de leitura. É muito saborosa a leitura, mesmo com o desconforto de não conhecer muitas das palavras do narrador (e para quem quiser ler e não tiver muita paciência com os neologismos, na edição brasileira tem um glossário da nadsat).

“Eu, eu, eu. E eu? Onde é que entro nisso tudo? [...] Será que serei apenas uma laranja mecânica?”

Agora, falando do protagonista… Alex é uma figura extremamente curiosa. Um personagem complexo, de uma inteligência gigantesca e que surpreende (muito!). Teve momentos que me senti meio bipolar lendo, porque ao mesmo tempo que eu desejava que ele se desse muito mal, um outro lado meu despertava uma compaixão absurda que se eu pudesse ninava ele no colo. Então, definitivamente, o Alex foi para mim um personagem de amor/ódio e, mesmo concluído a leitura, não consigo não sentir raiva dele e não ficar sem suspirar por ele.
As mensagens deixadas no livro pelo Burgess também são muito legais, me fez pensar muito no mundo em que vivemos, no que podemos fazer para nos sentirmos um pouco mais seguros e quais devem ser os nossos limites como seres humanos em todo esse contexto de terror e violência. Isso me tocou muito durante a leitura e posso dizer que Burgess “tocou a ferida” da sociedade atual, mas essa é parte que mexe mais com os sentimentos e pensamentos do leitor, então vou reservar as minhas conclusões para não interferir na de ninguém que está lendo essa resenha, porque esse realmente é um momento muito especial da leitura do Laranja.

“Cada homem mata a coisa que ama, como dizia o poeta-prisioneiro.”

Por fim, após muitas emoções e de já estar exaurida emocionalmente, o desfecho da obra foi algo feito para aliviar o leitor. E mesmo com a surpresa de uma esperança emergente logo ali no finalzinho, fiquei um pouco decepcionada. Desde o início a história foi apresentada com tanta veracidade mesmo sendo ficção-científica, que quando acabou não acreditei que Burgess realmente elaborou um final tão utópico. A solução é tão simples que é surreal, e acabou amortecendo o impacto de todos os acontecimentos da história. É quase como se o autor tivesse desconstruído em um ano o que ele gastou 20 anos para construir.
De qualquer forma, Laranja Mecânica é um dos livros que mais gostei de ler e que pretendo recomendar para todo mundo que cruzar o meu caminho.

Se já leu, deixe o seu comentário e suas opiniões, adoraria saber o que você achou e se tem mais alguém com uma paixonite pelo Alex(!!!).


2 comentários:

  1. Muita vontade de ler esse livro, mas a verdade é que não tive tempo ainda. Muitas pessoas falam bem dele, algumas falam mal, mas quero muito adicioná-lo a alguma das minhas metas. Vamos ver ano de vem rs.
    Abs!
    http://ohqueridavalentina.blogspot.com.br/

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  2. Olá!
    Faz tempo que quero ler esse livro, mas não tive a oportunidade de adquiri-lo ainda, quem sabe com esse restinho de blackfriday...


    Beijos,

    http://whoisllara.blogspot.com.br/

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